

A ascensão do populismo e o aprofundamento da polarização política têm se tornado marcas registradas do cenário mundial contemporâneo. Não se trata apenas de uma onda passageira ou de um fenômeno isolado em países em crise, mas de uma tendência que atinge democracias consolidadas, economias emergentes e até mesmo regiões em conflito. Mais do que nunca, a pergunta que precisa ser feita é: até onde a democracia global pode resistir a esses ataques internos e externos?
O populismo, em sua essência, se apresenta como a voz do “povo contra as elites”. Esse discurso simplista, porém, ganha força ao explorar emoções como medo, ressentimento e raiva, ao invés de estimular debates racionais e construtivos. Com isso, líderes populistas surgem como supostos salvadores da pátria, prometendo soluções fáceis para problemas complexos. Entretanto, a realidade mostra que tais líderes, quando chegam ao poder, frequentemente ampliam divisões sociais, fragilizam instituições democráticas e instauram regimes autoritários disfarçados de democráticos.
A polarização política, por sua vez, alimenta esse processo. A lógica do “nós contra eles” se intensifica, transformando adversários em inimigos e opiniões divergentes em ameaças existenciais. Redes sociais e plataformas digitais funcionam como catalisadores dessa polarização, reforçando bolhas ideológicas e incentivando a propagação de desinformação. Em vez de promover diálogo, essas ferramentas aprofundam abismos. A consequência imediata é a perda de confiança no sistema democrático e na legitimidade das instituições.
Outro ponto crítico é o impacto econômico da polarização e do populismo. Mercados financeiros reagem com instabilidade a governos que demonstram hostilidade às instituições, insegurança jurídica ou desprezo por políticas fiscais responsáveis. Investidores internacionais, atentos aos riscos políticos, tendem a retirar recursos de países em que a radicalização avança. Isso aprofunda crises econômicas, gera desemprego e aumenta a desigualdade social, criando um ciclo vicioso que retroalimenta o discurso populista.
Além disso, a polarização política corrói a governabilidade. Parlamentos se tornam arenas de guerra ideológica, incapazes de construir consensos mínimos para aprovar reformas estruturais. Em muitos casos, a própria Constituição passa a ser alvo de disputas narrativas, com tentativas de reinterpretar ou até mesmo reescrever regras fundamentais para favorecer grupos específicos. O resultado é uma democracia enfraquecida, em que a lei deixa de ser um pacto coletivo e se torna arma de facções políticas.
O populismo não se limita a discursos inflamados. Em diversos países, líderes populistas tentaram manipular tribunais, aparelhar instituições e usar mecanismos do próprio sistema democrático para corroê-lo por dentro. Esse processo, chamado de “erosão democrática”, é especialmente perigoso porque ocorre de forma gradual e muitas vezes silenciosa. Quando a sociedade percebe, já é tarde: as instituições estão fragilizadas, a imprensa perdeu espaço e a oposição foi reduzida a um papel meramente simbólico.
É preciso destacar também que a polarização não se restringe à política formal. Ela invade famílias, grupos sociais e até ambientes de trabalho. Discussões sobre eleições, medidas governamentais ou crises nacionais transformam-se em batalhas pessoais. Amizades se desfazem, relações familiares se rompem e a coesão social se dissolve. Essa fragmentação enfraquece a capacidade da sociedade de reagir de maneira unida diante de desafios globais, como mudanças climáticas, crises econômicas e pandemias.
Nesse contexto, a democracia enfrenta um dilema central: como preservar a liberdade de expressão e o direito ao voto sem permitir que esses mesmos direitos sejam usados para sabotar o próprio sistema? A resposta não é simples, mas envolve fortalecer instituições independentes, promover educação política crítica e incentivar o jornalismo de qualidade. Além disso, exige da sociedade civil uma postura ativa, capaz de fiscalizar líderes e de cobrar responsabilidade política.
A história mostra que democracias não morrem apenas por golpes militares ou ditaduras explícitas. Elas também colapsam de dentro para fora, corroídas por discursos populistas, pelo fanatismo ideológico e pela incapacidade de construir consensos. Quando o diálogo se perde, a democracia se torna refém da retórica inflamada e da manipulação de massas.
Em conclusão, o populismo e a polarização política representam hoje um dos maiores riscos globais. Eles não apenas ameaçam governos específicos, mas corroem as bases que sustentam o convívio democrático em escala mundial. Ignorar esse perigo é um erro grave. Mais do que nunca, é hora de analisar criticamente os caminhos que estão sendo trilhados, de exigir responsabilidade de líderes políticos e de reafirmar o valor da democracia como patrimônio coletivo da humanidade. Somente assim será possível resistir às ameaças e garantir um futuro em que o pluralismo, a liberdade e a justiça prevaleçam. https://pay.kiwify.com.br/5EgzoCm?afid=YoXi4vEy